Musseque, antes de ser uma peça para quatro bailarinos, é casa, encontro, um estar. É a continuidade do que se viveu e sentiu, tornando numa dança do presente as vivências já passadas, mas não esquecidas.
Em memória, regressa-se a uma guerra civil marcada pelos dois maiores partidos, o MPLA e UNITA. Em corpo, assiste-se ao nascimento de uma força de resistência: o kuduro. São corpos marcados pela turbulência de uma guerra, pelos efeitos de uma imigração, mas salvos pela potência da dança que está impressa nos corpos e que vai crescendo até ao aparecimento de outra potência: o afrohouse. Neste palco, revisitam-se os bairros das periferias de Angola ⎯ os musseques ⎯ e assiste-se ao crescer da música e da dança marginalizada por muitos, mas adorada pelo povo que soluciona os problemas do quotidiano transformando-os em toques como o bela, ti nogueira, do volante entre outros.
Procura ainda retratar a força feminina numa cultura com tantos requisitos masculinos. São várias as questões que importam responder e o Musseque é uma procura no presente dessas mesmas respostas ao dar a conhecer um estilo que surge como um “comprimido com tempo limite para nos distrair de uma guerra civil”.