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A palavra “lounge” é simultaneamente um verbo, que significa sentar-se ou deitar-se de forma relaxada, e um substantivo, que se refere a um espaço público onde as pessoas podem descansar. Lounging é tanto uma ação como um lugar, um espaço que se molda, habita e saboreia. Esta dualidade do descanso, da espera, do movimento e de ser movido está no cerne desta peça.

Lounge é um dueto para dois corpos que se identificam como femininos. Juntos, atravessam estados de descanso ativo e passivo, alternando entre reclinar-se e posicionar-se, até encontrar prazer na duração de movimentos repetitivos. A ideia de lounge enquanto espaço público, em oposição ao espaço solitário, é também central. As intérpretes utilizam a presença uma da outra para se aprofundarem em si mesmas e na vibração do momento.

A peça é permeada pelo conceito de Lapdance Invisível, composto por danças subtis, quase impercetíveis, que utilizam o olhar para desfocar as fronteiras entre quem dá e quem recebe. Esta estratégia coreográfica realça e questiona a relação entre dançarina e público, entre o que é público e privado, entre ver e ser visto.

A sensualidade é parte essencial desta obra e, consequentemente, também a atmosfera. A luz e a música nutrem e sustentam, são um ombro onde se pode apoiar, um colo onde as bailarinas se podem sentar.

Através da erótica e da construção de uma sensação de comunidade, Lounge explora o conforto do descanso como uma afirmação ativa da feminilidade. O paraíso pode ser um lugar na terra, mas tu estás na sala de espera, sem pressa. Inclinas-te na expetativa e demoras-te na sensação. A promessa do descanso eterno, da paz e do sono tranquilo chama por ti. Este espaço transitório prepara-te para isso.

Precisei do teu colo por um instante. Podes dar-me uma mão? Também podes sentar-te no meu colo ou pousar a tua cabeça nele e descansar. Posso cantar-te canções de embalar ao ouvido e, mais tarde, gemer-te na cara. Pode cair-te ao colo e está tudo bem, podemos simplesmente relaxar.

© Mayra Wallraf
© Mayra Wallraf
© Mayra Wallraf
© Mayra Wallraf
© Mayra Wallraf

Ficha Artística / Técnica

Conceito
Marga Alfeirão

Performance
Mariana Benengue, Marga Alfeirão

Coreografia e Investigação
Myriam Lucas, Cajsa Godée, Mariana Benengue

Música e Edição
Shaka Lion, Hinna Jafri

Espaço Cénico
Yoav Admoni

Figurinos
Nani Bazar

Styling
Marga Alfeirão, Mariana Benenge

Desenho de Luz
Thais Nepomuceno

Dramaturgia
Jette Büchsenschütz, Mateusz Szymanówka

Apoio na Distribuição
neon lobster / Giulia Messia & Katharina Wallisch

Uma produção de Marga Alfeirão, em co-produção SOPHIENSÆLE

Marga Alfeirão

Marga Alfeirão (Lisboa, 1994) utiliza os media para criar espaços seguros para a exploração da intimidade e da sexualidade através da dança e da performance. Fortemente influenciada por géneros de dança e texturas sonoras da diáspora africana, disseminadas pelo tecido social de Lisboa, Alfeirão procura uma afirmação ativa da feminilidade, criando espaço para sensualidades femininas e com um olhar feminino. Lounge (2023) recebeu o prémio 8:tension Young Choreographers Award. Ainda em 2023, estreou No Biggie Deal, um solo sobre o rapper de Brooklyn, Notorious B.I.G., que parte do sensacionalismo mediático e da nostalgia para levantar a questão: Será que Biggie era bissexual?

O seu primeiro trabalho de grupo, no c o r a ç ã o dela, estreou em dezembro passado, em conjunto com uma equipa de oito artistas, no Sophiensaele, em Berlim.