A palavra “lounge” é simultaneamente um verbo, que significa sentar-se ou deitar-se de forma relaxada, e um substantivo, que se refere a um espaço público onde as pessoas podem descansar. Lounging é tanto uma ação como um lugar, um espaço que se molda, habita e saboreia. Esta dualidade do descanso, da espera, do movimento e de ser movido está no cerne desta peça.
Lounge é um dueto para dois corpos que se identificam como femininos. Juntos, atravessam estados de descanso ativo e passivo, alternando entre reclinar-se e posicionar-se, até encontrar prazer na duração de movimentos repetitivos. A ideia de lounge enquanto espaço público, em oposição ao espaço solitário, é também central. As intérpretes utilizam a presença uma da outra para se aprofundarem em si mesmas e na vibração do momento.
A peça é permeada pelo conceito de Lapdance Invisível, composto por danças subtis, quase impercetíveis, que utilizam o olhar para desfocar as fronteiras entre quem dá e quem recebe. Esta estratégia coreográfica realça e questiona a relação entre dançarina e público, entre o que é público e privado, entre ver e ser visto.
A sensualidade é parte essencial desta obra e, consequentemente, também a atmosfera. A luz e a música nutrem e sustentam, são um ombro onde se pode apoiar, um colo onde as bailarinas se podem sentar.
Através da erótica e da construção de uma sensação de comunidade, Lounge explora o conforto do descanso como uma afirmação ativa da feminilidade. O paraíso pode ser um lugar na terra, mas tu estás na sala de espera, sem pressa. Inclinas-te na expetativa e demoras-te na sensação. A promessa do descanso eterno, da paz e do sono tranquilo chama por ti. Este espaço transitório prepara-te para isso.
Precisei do teu colo por um instante. Podes dar-me uma mão? Também podes sentar-te no meu colo ou pousar a tua cabeça nele e descansar. Posso cantar-te canções de embalar ao ouvido e, mais tarde, gemer-te na cara. Pode cair-te ao colo e está tudo bem, podemos simplesmente relaxar.